Tontura, que exame fazer?

Desvendando a Tontura

Quando você chega ao consultório dizendo "estou com tontura", a pista mais importante para solucionar o mistério não está em um exame de alta tecnologia, mas sim na sua história. O seu relato é a peça-chave do quebra-cabeça.

Vamos ver como essa investigação funciona passo a passo.


1. A Conversa Investigativa: As Perguntas Essenciais

Para entender o que está acontecendo, o médico precisa de detalhes. Ele organiza a investigação fazendo perguntas-chave sobre o tempo e os gatilhos da sua tontura.

O "Relógio" da Tontura:

O tempo que a tontura dura e a frequência com que ela aparece dão pistas valiosas.

  • Dura só alguns segundos? Geralmente acontece ao levantar rápido ou ao virar na cama? Isso pode indicar uma queda de pressão ou a famosa VPPB (os "cristais soltos" no labirinto).

  • Leva de minutos a algumas horas? A tontura vem em crises que te deixam enjoado(a) e somem depois? Pode ser um sinal de Doença de Ménière ou de Enxaqueca Vestibular (sim, enxaqueca pode causar tontura em vez de dor!).

  • É constante e dura dias ou semanas? Uma tontura que não vai embora pode indicar uma inflamação no nervo do equilíbrio (Neurite Vestibular) ou, em casos mais raros, um problema no cérebro, como um AVC, que precisa ser investigado.

O "Interruptor" da Tontura:

Algo específico parece "ligar" a sua tontura ou ela aparece do nada?

  • É Provocada: Acontece sempre que você deita ou levanta da cama, olha para cima ou se vira? Isso aponta para a VPPB. Acontece só quando você levanta rápido de uma cadeira? Provavelmente é uma queda de pressão.

  • É Espontânea: A tontura surge sem aviso, mesmo que você esteja parado(a) e tranquilo(a)? Isso é mais comum nos casos de Ménière ou Enxaqueca Vestibular.


2. O Exame no Consultório: Testes que Revelam Segredos

Depois da conversa, o especialista (geralmente um otoneurologista) fará alguns testes ali mesmo, no consultório. Eles são simples, rápidos e extremamente reveladores.

  • Manobras na Maca: O teste mais famoso é a Manobra de Dix-Hallpike. O médico irá mover sua cabeça e seu tronco de forma rápida e específica. Não se assuste! O objetivo é ver se um movimento específico provoca a tontura e, principalmente, observar seus olhos. Se eles tiverem um movimento involuntário (chamado nistagmo), o diagnóstico de VPPB pode ser confirmado na hora.

  • Os Olhos são o "GPS" do Equilíbrio: Os movimentos dos seus olhos contam uma história. O médico sabe que, dependendo de como seus olhos se mexem durante a tontura, é possível saber se o problema vem do labirinto (ouvido) ou de uma área do cérebro. É uma das pistas mais seguras que existem.

  • Teste Rápido para Casos Sérios (HINTS): Se você chegar ao hospital com uma vertigem forte e contínua, o especialista pode fazer um teste de três etapas chamado HINTS. Ele envolve movimentos rápidos da cabeça e a observação dos olhos. Acredite: nas primeiras 48 horas, esse teste feito por um especialista treinado é mais eficaz que uma Ressonância Magnética para diferenciar uma inflamação no ouvido de um AVC.

  • O Teste do Caminhar: A forma como você anda também dá dicas. Se a tontura vem do labirinto, a tendência é você desviar ou cair sempre para o mesmo lado. Se a dificuldade de andar for muito grande, a ponto de não conseguir ficar de pé sem ajuda, a investigação se volta para o cérebro.


3. E os Exames de Imagem e Laboratório?

  • Exames de Sangue: Raramente ajudam a encontrar a causa da tontura.

  • "Fotos do Cérebro" (Tomografia e Ressonância): Não são necessárias para a maioria dos casos, como na VPPB. O médico só pedirá uma Ressonância Magnética se a história e os testes no consultório levantarem a suspeita de um problema mais sério no cérebro (como um AVC, tumor ou Esclerose Múltipla). A Tomografia não é tão boa para ver as áreas do cérebro que controlam o equilíbrio.

  • Teste de Audição (Audiometria): É fundamental se, junto com a tontura, você sentir perda de audição ou zumbido, como acontece na Doença de Ménière.


A Maratona até o Diagnóstico: Uma Jornada que Exige Paciência

Se você sofre com tontura há muito tempo e ainda não tem um diagnóstico claro, saiba que não está sozinho(a). Estudos mostram que, em centros especializados, pacientes podem levar em média 4 anos desde o início dos sintomas até finalmente receberem o diagnóstico correto.

Essa demora acontece porque as causas são muitas e nem sempre o caminho até o especialista é rápido. Aliás, em 90% das vezes, o diagnóstico que um médico não especialista dá para a tontura acaba sendo diferente do diagnóstico final do otoneurologista.

Por isso, se a tontura faz parte da sua vida, o passo mais importante é procurar um especialista. Ele é o detetive mais bem treinado para desvendar esse mistério e devolver seu equilíbrio.

 

Dra. Lucia Joffily Otoneurologista especialista em Tontura, Zumbido e Medicina do Sono

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Dra. Lucia Joffily

Otorrinolaringologista, especialista em Otoneurologia e Medicina do Sono pela UNIFESP. Coordenadora dos ambulatórios de Tontura e Sono na UNIRIO. Doutoranda na University College London (UCL) e UFRJ. Seu foco de atuação clínica e pesquisa são a Tontura e o Sono. CRM RJ 82291-4 | RQE Nº: 37177 | RQE Nº: 37178.

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