Testando a audição em caso de acidente vascular cerebral suspeito: uma oportunidade diagnóstica

 

A perda auditiva súbita pode ser um dos primeiros sinais de um acidente vascular cerebral (AVC), especialmente em casos que afetam a circulação posterior do cérebro, como o infarto da artéria cerebelar anteroinferior. Apesar disso, esse sintoma ainda é pouco reconhecido e raramente avaliado na prática clínica, mesmo quando é relatado pelo paciente.

Essa falha revela uma desconexão entre os avanços da literatura científica e os protocolos utilizados no atendimento de emergência. A Escala de AVC do NIH (NIHSS), por exemplo, foi desenvolvida para identificar AVCs da circulação anterior, priorizando sintomas como fraqueza muscular, paralisia facial e alterações na fala. Já os AVCs da circulação posterior, que podem causar sintomas mais sutis como perda auditiva, tontura e alterações visuais, muitas vezes não são identificados adequadamente por essa escala.

A baixa detecção da perda auditiva nesses casos pode estar relacionada à ausência de exames auditivos nos protocolos de triagem e ao fato de que os pacientes, diante de sintomas mais intensos como náuseas e vertigem, muitas vezes não percebem a alteração auditiva.

Diante disso, sugerimos a inclusão da audiometria portátil nos protocolos de avaliação de AVC. Esse exame é validado, de baixo custo, fácil de aplicar e requer pouco treinamento. Sua utilização pode aumentar a chance de diagnosticar precocemente AVCs da circulação posterior — inclusive nos casos em que os exames de imagem iniciais, como a ressonância magnética, não mostram alterações.

Reconhecer a perda auditiva súbita como um sinal neurológico importante pode contribuir para diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais eficazes, reduzindo complicações e melhorando os desfechos dos pacientes.

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